segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

EDIÇÕES QUEIROSIANAS



Ainda em 2006 a editora coimbrã Mar da Palavra publicou de António Apolinário Lourenço, Eça de Queirós e o Naturalismo na Península Ibérica, um vigoroso estudo (686 páginas) sobre «a recepção do Naturalismo francês nas literaturas portuguesa e espanhola do último quarto do século XIX, com particular incidência nas obras de dois dos seus autores mais representativos: Eça de Queirós... e... Leopoldo Alas “Clarin”», este último leitor do primeiro.
Entretanto no Brasil, a pátria dos eçófilos por excelência, o saudoso actor Paulo Autran, falecido a 12 de Outubro de 2007, deixou-nos em preciosa herança um CD com a sua leitura dos Contos de Eça de Queirós, editado em 2006 por Luz da Cidade. A leitura de Frei Genebro jamais encontrará outra voz que assim o interprete.

Eça de Queirós e a Justiça




Bacharel em Direito, filho de magistrado, neto de magistrado, Eça de Queirós depressa aborreceu as leis e a prática de advogado. Sobre a justiça e os tribunais em abstrato quase nunca escreveu e se o fez foi de soslaio. Conhecia o sistema e sabia que cair-lhe nas garras era penoso, caro e de imprevisível desfecho; por mais razão que o cidadão tivesse, sabia que não era certo que vencesse e, ainda que o conseguisse, provavelmente ficaria arruinado. Para Eça de Queirós «... a magistratura é um poder eminentemente conservador que entende perfeitamente tudo quanto não seja acrescentar a mínima inovação às coisas que ela estivera na véspera à noite a inventariar...» (As Farpas, coordenação de Maria Filomena Mónica, vol. I, 171/172). Não se pode dizer que sobre os juizes tivesse a mesma opinião que tinha o Marquês de Sade, mas andava por lá perto. Não criticando directamente o poder judicial (Eça não era homem de fortuna nem tinha alma de aventureiro!), é na descrição de alguns dos seus titulares que o escritor melhor nos apresenta a sua ideia sobre este órgão de soberania que, por mais tinta preta que lance na água, como faz o polvo quando quer fugir, só o é quando exerce a soberania em nome do Povo e não dos códigos em que este já não se revê, exactamente porque a vida é concreta e dinâmica e não um qualquer fóssil que possa ser catalogado pelas ciências jurídicas.
Na extensa galeria de tipos queirosianos da Justiça e do Direito encontramos o desembargador Amado (O Conde d’Abranhos) que «tivera uma carreira singularmente fácil» e era «um ventre... e assinava... onde os colegas lhe indicavam com o dedo»; o Dr. Margaride (A Relíquia) «aposentara-se, farto dos autos...» e gostaria de dar «... uma cacheirada mortal no ateísmo e na anarquia», como fez na sua última homilia de Natal o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa (estas coisas repetem-se que Diabo, perdão, que diabo!).
Quanto aos professores de Direito, então exclusivos da excelsa Coimbra e hoje disseminados pelas suas sucursais públicas e privadas, já então «a sua veneranda ciência, os seus achaques, os seus serviços de decano[s], inspiravam a todos os que admiram estes vetustos sábios, encanecidos nos comentários de vetustos compêndios, uma admiração simpática», diz Eça referindo-se ao lente Dr. Pascoal em O Conde de Abranhos. Ora acontece que hoje há uma leva de juizes novos que era suposto renovarem a Justiça, mas que nem têm ainda ciência para tal, nem nos inspiram admiração nem, muito menos, simpatia.
Quanto aos advogados, o Dr. Vaz Correia (O Conde de Abranhos) era conhecido em Lisboa por ter «... saliente a barriguinha própera»; e no que diz respeito aos formados em Direito que dão pelo nome de juristas, tomemos como exemplo queirosiano o Pacheco de A Correspondência de Fradique Mendes, «dono de um imenso talento» que nunca serviu para nada. Mesmo os estudantes de Direito, não são normalmente retratados pelo escritor pelo seus interesses intelectuais: Teodósio Margarido (A Capital), em vez de compêndios e tratados, fazia-se normalmente acompanhar de «uma moca enorme». Podíamos continuar pelo resto do quadro do pessoal do Órgão de Soberania e ver como Eça retratou os escrivães e os outros funcionários judiciais, mas não vale a pena, até porque estes pouco riscam na tocata do órgão, a não ser na desafinação que calha ao cidadão que tem de lhes aturar a música. Por isso leiam o que diz Eça de Queirós naquilo que ele realmente escreveu, e não no que outros acham que ele devia ter escrito, pois até já li um livreco de um professor de Direito de Coimbra a querer pôr o escritor muito contente, venerador e obrigado com o curso que ali frequentou. Volta António Ferro, que estás perdoado!
Obviamente que nem toda a Justiça do passado e do presente cabe na caricatura queirosiana; há ainda, e sempre houve, quem levasse a dita a sério e fizesse por exercê-la em nome do Povo, tirando a venda à senhora que joga à cabra-cega com os cidadãos que habitualmente a encontram na fachada, no átrio ou mesmo nas salas de audiência dos tribunais.
Queremos que ela nos veja bem e saiba ao que vamos. É que «... fora da observação dos factos e da experiência dos fenómenos, o espírito não pode obter nenhuma soma de verdade», como escreveu o jovem Eça de Queirós no Districto de Évora, já lá vão tantos anos. Mas ainda há quem tal não tenha percebido, provavelmente porque a clareza de pensamento não vem nos códigos.

J. A. Gonçalves Guimarães
Legenda: La Justice, de Duret
in Tableau de Paris: Paulin et Le Chevalier, 1853, p. 156

D. EMILIA MARIA DE CASTRO D’ EÇA DE QUEIROZ CABRAL



No passado dia 28 de Dezembro faleceu em Vila Nova de Gaia, onde residia, a última neta do escritor Eça de Queiroz.
Nascida na Granja a 25 de Novembro de 1920 - o mesmo dia natalício de seu avô - era filha de José Maria de Eça de Queiroz (1888-1928), o segundo filho do escritor, e de sua prima direita D. Matilde de Castro (1890-1964), 7ª filha do 6º Conde de Resende, D. Manuel Benedito de Castro Pamplona (1845-1907), cunhado do escritor.
D Emília era viúva do Dr. José Pereira Cabral (1915-1995), médico tisiologista precursor do tratamento ambulatório da tuberculose. Do casal houve numerosa descendência, que se conta por filhos, netos e bisnetos.
No ano 2000, já então impossibilitada de escrever, mas sempre lúcida, D. Emília Cabral acedeu a fazer uma síntese das suas memórias da Granja, que foram escritas por sua filha D. Maria da Graça d’Eça de Queiroz Cabral Nicolau de Almeida e publicadas no Roteiro Queirosiano de Vila Nova de Gaia, de J. A. Gonçalves Guimarães e Ana Filipa Correia, Solar Condes de Resende, 2000, pp. 57-60. Aí conta o que foi a sua relação com D. Emilia de Castro Pamplona, sua avó e mulher de Eça de Queiroz, que veio a falecer naquela praia gaiense em 1934.
Legenda: D. Emília d’Eça de Queiroz Cabral
no Solar Condes de Resende, 1995

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Baile de Carnaval

CARNAVAL 2008

Solar Condes de Resende
2 e 3 de Fevereiro


Sábado 2 de Fevereiro 21,30 horas
Baile de Máscaras – Conjunto ACRAV
Prémio para a melhor fantasia; entrada livre

Domingo dia 3, 15 horas
Concurso de fantasias infantis mediante inscrição prévia

Organização: Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana
Patrocínio: Gaianima, EM
Contactos: 227531385 solarcondesresende@gaianima.pt

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Camélias


Camélias do Solar Condes de Resende


Encontram-se no auge da floração até finais de Fevereiro as camélias do Solar Condes de Resende. Trazidas da Ásia para Portugal por D. João de Castro no século XVI, existem aqui cinco variedades, desde as completamente brancas, passando pelas rosa, matizadas de vermelho e branco, singelas com estames amarelos e uma variedade pouco comum que apresenta cinco pétalas em estrela, com pompom esférico central, tudo em vermelho vivo.
Pensa-se que as camélias do Solar, de aspecto arbóreo, terão cerca de 300 anos, tendo sido já visitadas pela The Japan Camellia Society. A visita ao Jardim das Camélias é grátis.

A Jóia do Mês de Janeiro


A Jóia do Mês
do Solar Condes de Resende
Janeiro de 2008 (nº 13)






Designação: Medalha de Napoleão I
Materiais: Bronze dourado
Dimensões: 5 cm diâmetro
Peso: 3,7 g
Função: Comemorativa
Autor/ Oficina: GAYRARD F (ecit)
Local de produção: Paris?
Cronologia: Século XIX
Proveniência: Desconhecida
Estado de conservação: Bom
Intervenções: Limpeza simples
Fundo: Colecção Marciano Azuaga
Data da incorporação: 1904; no Solar Condes de Resende, em 1987.
Nº inventário: 574-118 - “Medalha da inauguração do tumulo de Napoleão I, em 5 de Maio de 1853”
História da peça: A peça apresenta, numa só face, o busto de Napoleão Bonaparte de perfil circundado pela legenda NAPOLEON Ier EMPEREUR. O seu autor é Raymond Gayrard (1777-1858), também conhecido por Gayrard pai, por ter um filho homónimo que, tal como ele, foi escultor e gravador.
Bibliografia: GUIMARÃES, J. A.; COELHO, Sérgio Veludo; FERREIRA, Felicidade Moura (1997) – Os Mártires da Arrifana. Memória da Guerra Peninsular. Santa Maria da Feira: Junta de Freguesia da Vila de Arrifana, p. 31; en.wikipedia.org/wiki/Napoleonic_medal; fortiter.napoleonicmedals.org; http://www.artexpertswebsite.com/; http://www.artnet.com/; http://www.broze-gallery.com/; http://www.napoleonicmedals.org/;
Anotadores: J.A. Gonçalves Guimarães e Susana Guimarães
Profissão/cargo: Historiador-Arqueólogo – Director do Solar Condes de Resende; Historiadora-Arqueóloga - Técnica Superior de História da GAIANIMA, E.M., Solar Condes de Resende.
Data: 6 de Dezembro de 2007
Copyright: Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.