Brasil e o Vinho do Porto
António Barros Cardoso
As relações entre a cidade do Porto e o Brasil, remontam à chegada dos portugueses aquelas terras em finais do século XV. O relato de Pero Vaz de Caminha, ele próprio um morador na cidade do Porto, não deixa dúvidas sobre os laços de forte complementaridade entre a capital do norte de Portugal e as mais importantes urbes portuárias das várias capitanias do Brasil. Tais laços alimentaram um comércio que sempre foi cobiçado pelas comunidades de estrangeiros que cedo se fixaram aqui na capital do Norte de Portugal. Afinal perseguiam o objetivo comum de beneficiarem das trocas comerciais transatlânticas que enriqueceram as duas partes. Esta relação é alimentada também pela forte ligação humana entre as gentes do Norte e os povoadores da antiga colónia portuguesa. Primeiro foram o açúcar e o tabaco brasileiros (séculos XVI e XVII). Depois foi o negócio de Vinhos do Porto (primeira metade do Século XVIII em diante). Parte substancial dos negócios do Porto com o Brasil, manteve-se ao longo da primeira metade do século XVIII, nas mãos dos mercadores portugueses, mas muito por imperativo dos tratados celebrados com os nossos parceiros comerciais no século anterior. Por isso, no que aos vinhos diz respeito, foram também os nacionais que exportaram maiores quantidades de vinhos destinados aos portos do Brasil. Afastados do trato vinícola direto ou indireto pela criação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (1756-1777), os estrangeiros fixados na cidade do Porto, por si ou em sociedades que envolviam mercadores portugueses, voltaram a assumir algum protagonismo (finais do século XVIII) nas compras da grande variedade de produtos brasileiros que afluíram ao Porto que voltava a servir de entreposto de ligação comercial entre o Brasil a Inglaterra a Holanda a Bélgica, Hamburgo a Itália e a vizinha Espanha. Ao mesmo tempo, continuavam a chegar ao Brasil os “mimos” da produção agrícola e industrial do Norte de Portugal, ocupando aqui os vinhos do Porto um lugar destacado.
• Professor Aposentado da Universidade do Porto – Faculdade de Letras; Presidente da Direção da Associação Portuguesa de História da Vinha e do Vinho APHVIN.
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