sexta-feira, 28 de dezembro de 2007



40 ANOS DE VIDA LITERÁRIA DE J. RENTES DE CARVALHO: ESPÓLIO OFERECIDO À CONFRARIA

Como anunciamos na página anterior, o n.º 4 da Revista de Portugal está dedicado aos quarenta anos da vida literária do escritor J. Rentes de Carvalho, nascido em Vila Nova de Gaia a 15 de Maio de 1930, que em 1956 se radica na Holanda, onde foi professor de Língua e Cultura portuguesas na Universidade de Amsterdam e que hoje divide a sua vida entre a cidade das , 2007.tulipas e Estevais do Mogadouro, em Trás-os-Montes, a terra dos seus antepassados.
O seu primeiro romance, Montedor, apareceu em 1968 e, desde aí, tem publicado muitos outros títulos em que estórias de portugueses se fundem no cadinho da vida com o humano universal que luta com a necessária esperteza quotidiana em busca do paraíso possível ao virar da esquina, num mundo que não está para se despir de mitos e que apenas lhes muda a roupa a cada revolução.
Feito confrade de honra da Confraria Queirosiana em 2005, o escritor tem vindo a fazer desta instituição a fiel depositária de livros, documentos e objectos pessoais do seu universo de escritor, tendo já depositado no Solar Condes de Resende obras que pertenceram a seu pai e outras que o acompanharam na juventude, dando-lhe então ensejos de querer correr o mundo, e ainda a sua queirosiana pessoal, edições dos seus livros em holandês e português, traduções das obras de Eça para neerlandês, a documentação original da sua passagem pela Universidade de Amsterdam, a qual inclui correspondência com grandes nomes da Cultura portuguesa dos anos sessenta e setenta e os documentos oficiais que têm a ver com uma campanha mesquinha e pulha que lhe moveu António José Saraiva, que ele tinha ajudado a entrar para aquela universidade. Também muitos artigos seus em jornais holandeses, a sua tese sobre «O Povo na obra de Raúl Brandão (1867-1930)», Amsterdam, Abril de 1976, e muitos outros escritos e documentos, os quais vão ser apresentados ao público no próximo ano numa exposição, estando já a ser elaborado o catálogo deste espólio.
A loja do Solar tem também à venda alguns dos seus títulos mais procurados ainda disponíveis, enquanto que as Edições Gailivro se preparam para relançar no mercado os títulos esgotados, começando por Ernestina, já no próximo mês de Janeiro, a que outros se seguirão.
Entretanto em recente conversa com o escritor, demos conta da sua azáfama na redação final de mais um título a editar na Holanda, mostrando assim que a sua vida literária está pujante de vitalidade, até porque todos nós continuamos à procura do que encontramos nos seus livros: o deslumbramento pelas coisas simples, a busca do afecto e da amizade para além das circunstancias, a constatação de que a vida nem é lógica, nem é simples, nem é como Deus, Cristo, Maomé, o Senhor, Jeová, Alá, Buda, o Dalai Lama, Bin Laden, George Busch, Putin, o Diabo, o Papa, Marcelo, Manitu, a NATO, a ONU, a UE, a ASAE, Fidel Castro e outros grandes disciplinadores querem que ela seja. Nos livros de J. Rentes de Carvalho a vida faz a todos eles, e a nós que o lemos, um grandessíssimo manguito.
Se os portugueses lessem e apreciassem os seus livros como o fazem os holandeses, de certeza que rapidamente ascenderiam ao pelotão da frente dos países mais ricos da Europa, onde aqueles sempre estiveram, mesmo sem os génios superiores com que o Céu nos bafejou no século XX, nomeadamente o olimpo republicano (dezenas de génios), Sidónio Paes, Nossa Senhora de Fátima, a emanação divina de Santa Comba Dão (Salazar, seus ignorantes), as Santinhas de Arcozelo, Balazar e da Ladeira, Amália, Eusébio, Américo Tomaz, Álvaro Cunhal, o olimpo democrata pós-vinte e cinco de Abril (centenas de génios, o que nos leva a não nomear nenhum para não ferir suscetibilidades), todos presentes, implícita ou explicitamente, nos seus textos quais santos caseiros de barro ou marfinite ganhando pó e teias de aranha no oratório da avó-pátria.
Toda esta procissão, bem assim como os que seguram nos andores e lhes seguem no coice, estão todos, todos eles, e nós, e tu, e eu, nos livros de J. Rentes de Carvalho, às vezes patetas e patéticos, outras apenas gente, posando para a possível eternidade individual e colectiva, acenando-nos da foto de família que cada um encontra nestes livros para pôr na sua parede mais pessoal.
Legenda: J. Rentes de Carvalho com Mário Dorminsky e J. A. Gonçalves Guimarães, Vila Nova de Gaia

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